Conheça o DPAC –
Distúrbio do Processamento Auditivo Central
Além dos tipos mais conhecidos de
perdas auditivas (a condutiva e a neurossensorial) e da Neuropatia Auditiva, existe um outro tipo de distúrbio relacionado com a audição humana,
mas que, ao mesmo tempo, não é bem classificado como perda auditiva. Estamos
falando do Distúrbio do Processamento Auditivo Central (DPAC), também chamado
de Disfunção Auditiva Central ou Transtorno do Processamento Auditivo.
O DPAC é caracterizado por afetar as
vias centrais da audição humana, ou seja, as áreas cerebrais relacionadas às
habilidades auditivas e de interpretação das informações sonoras. Na maior
parte dos casos, o sistema auditivo periférico (tímpano, cóclea, nervo
auditivo) encontra-se totalmente preservado, daí o motivo do DPAC dificilmente
levar a nomenclatura de Surdez Central. A principal consequência do distúrbio
está no processamento das informações captadas pelas vias auditivas. Assim, a
pessoa ouvirá claramente a fala humana, mas terá dificuldades em decodificar e
interpretar a mensagem recebida. Veja, a seguir, a explicação sobre o DPAC em
imagens.
Em indivíduos sem alterações do
Sistema Auditivo Central, a área relacionada ao processamento auditivo é
composta das seguintes habilidades: atenção seletiva, discriminação,
localização, reconhecimento do som, compreensão, integração (integrar o som aos
outros órgãos dos sentidos) e memória auditiva. O DPAC pode atingir uma ou
várias destas habilidades, em diferentes graus. As mais afetadas costumam ser
as relacionadas com as funções de decodificação (entender o que se ouve),
codificação (construir uma informação com base no que se ouviu), memória
auditiva e prosódia (capacidade de entender o duplo sentido das palavras).
Distúrbio do processamento auditivo prejudica aprendizado
Marcela Munhoz - Diário do Grande ABC
Desde os 2 anos, Maurício Arruda Fatibello, 28, tem dificuldade em se comunicar. Aos 9, quando entrou na escola e começou a aprender a ler e a escrever, ficou ainda mais difícil. Ele foi diagnosticado com dislexia e seguiu se esforçando mais do que todos os outros. "Ouvia, mas não entendia, principalmente quando o ambiente estava muito barulhento. Não conseguia focar e achava que era a dislexia", conta Maurício, que cansou de ouvir que era preguiçoso.
Com notas sempre no limite, conseguiu se formar na escola e, mais tarde, na faculdade de Medicina. Há quatro meses, já médico, descobriu finalmente o que tanto o atrapalhou a vida toda: ele tem distúrbio do processamento auditivo central, ou simplesmente distúrbio do processamento auditivo. "É uma disfunção dos circuitos cerebrais responsáveis pela distribuição e processamento das informações obtidas através da audição", explica a neurologista Denise Menezes.
É como se o cérebro fosse um rádio. O sinal existe, mas por algum motivo, há ruídos, interferências e a informação não consegue ser perfeitamente compreendida. No caso, o problema está no sistema nervoso central, onde o processamento do estímulo sonoro não é feito corretamente e a decodificação é lenta.
"Todos os sons do ambiente são ouvidos por todos. Quem não tem o distúrbio, consegue prestar mais atenção no que interessa. Quem tem, ouve um monte de barulhos e fica completamente perdido", detalha Marisa Ruggieri Barone, fonoaudióloga da Faculdade de Medicina do ABC. Segundo ela, a sensação é de frustração, já que a pessoa se esforça ao máximo para entender e, simplesmente, não consegue. "O que um aluno sem DPA faz em 15 minutos, o com distúrbio leva três horas. No final, a nota ainda é ruim."
Tanto que os primeiros sinais são desatenção na escola e dificuldades na escrita, leitura e interpretação de texto. "Os professores são os que mais percebem que tem algo de errado", observa o otorrinolaringologista da Faculdade de Medicina do ABC Osmar Clayton Person.
Incompreendidos, os alunos com o distúrbio ficam irritados e acabam desistindo de prestar atenção. Por isso, a fama de bagunceiros e desinteressados. "Acham que a pessoa é boba e até que está tirando o sarro por pedir para repetir muitas vezes o que não entendeu. Acabam se acostumando que estão sempre errados. A autoestima vai lá para baixo", enfatiza Liliane Desgualdo, da Universidade Federal de São Paulo, pioneira no diagnóstico do DPA no Brasil.
"É preciso desenvolver estruturas neurológicas para formar mais conexões neurais. Se a pessoa vive privação sensorial e experiências sonoras de má qualidade, não estimula o desenvolvimento das conexões neurais, prejudicando habilidades auditivas, incluindo a memória", observa Liliane Desgualdo.
A especialista defende educação musical, capoeira, coral, dança e qualquer outra atividade que associa o movimento a um som. "Também é importante a comunicação. Precisa aprender as entonações e regras de uma conversa."
Mesmo sendo realidade de milhões de brasileiros, o distúrbio do processamento auditivo é difícil de ser diagnosticado. Os primeiros exames foram disponibilizados no Brasil só em 1997 e não são todos os especialistas que fazem.
O primeiro passo para chegar ao diagnóstico é marcar consulta com neurologista ou otorrino. Eles vão descartar problemas auditivos. Depois, o paciente é encaminhado ao fonoaudiólogo, que indica bateria de exames. "Os testes verificarão quais habilidades auditivas estão alteradas e qual o grau do distúrbio", explica Daniela Gil, gestora do Departamento de Audição e Equilíbrio da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia.
O tratamento depende do tipo do distúrbio e da idade do paciente. Quem tem entre 5 e 9 anos realiza terapia fonoaudiológica. Os mais velhos podem fazer treinamento em cabine (usando fones) e aprender a lidar com situações de escuta difícil. Em média, o tratamento dura de oito a 12 sessões. "Quanto mais cedo, melhor", enfatiza Daniela, também professora da Universidade Federal de São Paulo.
Com notas sempre no limite, conseguiu se formar na escola e, mais tarde, na faculdade de Medicina. Há quatro meses, já médico, descobriu finalmente o que tanto o atrapalhou a vida toda: ele tem distúrbio do processamento auditivo central, ou simplesmente distúrbio do processamento auditivo. "É uma disfunção dos circuitos cerebrais responsáveis pela distribuição e processamento das informações obtidas através da audição", explica a neurologista Denise Menezes.
É como se o cérebro fosse um rádio. O sinal existe, mas por algum motivo, há ruídos, interferências e a informação não consegue ser perfeitamente compreendida. No caso, o problema está no sistema nervoso central, onde o processamento do estímulo sonoro não é feito corretamente e a decodificação é lenta.
"Todos os sons do ambiente são ouvidos por todos. Quem não tem o distúrbio, consegue prestar mais atenção no que interessa. Quem tem, ouve um monte de barulhos e fica completamente perdido", detalha Marisa Ruggieri Barone, fonoaudióloga da Faculdade de Medicina do ABC. Segundo ela, a sensação é de frustração, já que a pessoa se esforça ao máximo para entender e, simplesmente, não consegue. "O que um aluno sem DPA faz em 15 minutos, o com distúrbio leva três horas. No final, a nota ainda é ruim."
Tanto que os primeiros sinais são desatenção na escola e dificuldades na escrita, leitura e interpretação de texto. "Os professores são os que mais percebem que tem algo de errado", observa o otorrinolaringologista da Faculdade de Medicina do ABC Osmar Clayton Person.
Incompreendidos, os alunos com o distúrbio ficam irritados e acabam desistindo de prestar atenção. Por isso, a fama de bagunceiros e desinteressados. "Acham que a pessoa é boba e até que está tirando o sarro por pedir para repetir muitas vezes o que não entendeu. Acabam se acostumando que estão sempre errados. A autoestima vai lá para baixo", enfatiza Liliane Desgualdo, da Universidade Federal de São Paulo, pioneira no diagnóstico do DPA no Brasil.
CAUSAS
Ainda não se sabe ao certo como o DPA é desenvolvido, mas acredita-se que infecções no ouvido, alterações neurológicas, doenças neurodegenerativas, lesões nos canais auditivos, alergias, nascimento prematuro, influência genética e até falta de estímulos sonoros na infância podem provocar o distúrbio. As estruturas do cérebro que interpretam e hierarquizam os sons se desenvolvem até os 13 anos."É preciso desenvolver estruturas neurológicas para formar mais conexões neurais. Se a pessoa vive privação sensorial e experiências sonoras de má qualidade, não estimula o desenvolvimento das conexões neurais, prejudicando habilidades auditivas, incluindo a memória", observa Liliane Desgualdo.
A especialista defende educação musical, capoeira, coral, dança e qualquer outra atividade que associa o movimento a um som. "Também é importante a comunicação. Precisa aprender as entonações e regras de uma conversa."
Tratamento melhora muito a qualidade de vida
"Estou aliviado em saber que o que tenho tem nome e tratamento. Minha vida mudou", desabafa o médico Maurício Fatibello, que após 11 sessões notou diferença. "Não peço mais para repetir. Se tivesse tratado antes, teria sofrido menos."Mesmo sendo realidade de milhões de brasileiros, o distúrbio do processamento auditivo é difícil de ser diagnosticado. Os primeiros exames foram disponibilizados no Brasil só em 1997 e não são todos os especialistas que fazem.
O primeiro passo para chegar ao diagnóstico é marcar consulta com neurologista ou otorrino. Eles vão descartar problemas auditivos. Depois, o paciente é encaminhado ao fonoaudiólogo, que indica bateria de exames. "Os testes verificarão quais habilidades auditivas estão alteradas e qual o grau do distúrbio", explica Daniela Gil, gestora do Departamento de Audição e Equilíbrio da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia.
O tratamento depende do tipo do distúrbio e da idade do paciente. Quem tem entre 5 e 9 anos realiza terapia fonoaudiológica. Os mais velhos podem fazer treinamento em cabine (usando fones) e aprender a lidar com situações de escuta difícil. Em média, o tratamento dura de oito a 12 sessões. "Quanto mais cedo, melhor", enfatiza Daniela, também professora da Universidade Federal de São Paulo.
Causas, diagnóstico e tratamento
As causas mais comuns do DPAC são por
origem genética, lesões cerebrais por anóxia ou traumatismo craniano, presença
de outros distúrbios neurológicos, atraso maturacional das vias auditivas do
Sistema Nervoso Central ou por envelhecimento natural do cérebro. Por isso, a
maior parte dos diagnósticos é feita em crianças e idosos. Os principais
sintomas que podem ser percebidos em grande parte dos casos são: a presença de
zumbidos ou alucinações auditivas, dificuldade para ouvir em ambientes
ruidosos, dificuldade em acompanhar informações auditivas complexas e em
localizar fontes sonoras, falta de interesse por música e extrema desatenção
auditiva. Particularmente em crianças o DPAC se manifesta através de
dificuldades de concentração, memorização, aprendizagem, leitura, escrita e
também pela troca de fonemas, e pode vir acompanhado de outros distúrbios, como
o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).
O diagnóstico do DPAC é composto de
procedimentos um pouco mais elaborados do que as análises audiométricas comuns,
pois é importante diferenciar a perda de audição localizada no órgão sensorial
(ouvido) da alteração do processamento auditivo central. Para isso, é exigido,
além das audiometrias padrão, testes para PAC (monóticos, dióticos e de
interação binaural) e de avaliação do desenvolvimento linguístico e do
comportamento auditivo. A idade mínima para tal diagnóstico é a partir dos quatro
anos, e estes exames são realizados pelo próprio profissional fonoaudiólogo,
com ou sem o uso de cabine acústica (o que depende da especificidade de cada
caso), porém, ainda não são muito comuns e não costumam fazer parte da rotina
dos hospitais públicos brasileiros. Apenas alguns convênios particulares cobrem
tais procedimentos.
Os exames apontarão em quais
habilidades auditivas a criança possui maior dificuldade, e isto vai servir de
orientação para a escolha dos exercícios e das técnicas de treinamento auditivo
que o fonoaudiólogo exercitará com a criança. Atividades, jogos e o uso da
cabine acústica são alguns dos recursos utilizados na reabilitação. Um trabalho
multidisciplinar que envolva também os pais, a escola e os professores é de
extrema importância para o desenvolvimento global do indivíduo com DPAC.
Infelizmente, em muitos casos a escola não dá a devida atenção às necessidades
específicas do aluno com este distúrbio auditivo, preferindo taxa-lo de
“preguiçoso” ou “incapaz”.
Tratamentos
alternativos e orientações aos pais e mestres
Além do acompanhamento de uma equipe
multidisciplinar, alguns especialistas defendem também uma terapia Homeopática,
pois acreditam que tais substâncias tornam o cérebro mais receptivo aos
estímulos, acelerando o resultado do tratamento fonoaudiológico. Outra opção
para auxiliar a criança com DPAC é o uso do Sistema FM na escola, pois este equipamento também pode ser utilizado em indivíduos
sem perda auditiva periférica. O FM amplificará a voz do professor, fazendo com
que a criança volte sua atenção mais facilmente para o que este explica em sala
de aula. E se, além do DPAC, o diagnóstico também apontar perda auditiva
condutiva ou neurossensorial, a criança deverá usar AASI (Aparelhos de
Amplificação Sonora Individual) ou Implante Coclear, dependendo do grau de sua
perda.
Veja a seguir algumas dicas para pais
e professores para ajudar no desenvolvimento das crianças com DPAC (orientações
retiradas e adaptadas do site Prontuarioidmed.com.br).
– Reconhecer que o indivíduo não tem
controle de suas dificuldades.
– Compreender que a criança não tem
dificuldades com os seus recursos intelectuais. Ajude-a a descobrir seus
talentos.
– Falar com um ritmo contendo pausas
nítidas, com articulação clara, com ênfase na entonação e dando pista
orofacial.
- Não negar a repetição do que foi
dito quando a criança não compreendeu anteriormente.
– Guardar uma posição preferencial do
indivíduo com DPAC em sala de aula, isto é, de modo a permitir a completa
visualização do rosto do professor.
– Se possível, entregar a aula
impressa para o aluno antes de ministrar.
– O professor de educação física e o
de música podem ajudar com treinamento auditivo durante as atividades.
– Reconhecer que pode ocorrer cansaço
mental antes do esperado. O descanso mental significa uma atividade motora,
como subir e descer escadas.
– Cuidar do ruído do ambiente físico
para garantir a inteligibilidade da fala.
– Realizar solicitações em frases
curtas, dando uma ideia por vez. Ex.: Abra o estojo. Procure o lápis preto.
Pegue o lápis preto.
– Assegurar-se de que a criança
compreendeu as solicitações, pedindo-a para repetir o que foi dito. Falar alto
quando precisar chama-la.
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